Durante os séculos I e II
d.C., o Império Romano viveu uma época de grande estabilidade.
Porém, a partir do século III iniciou uma crise prolongada,
resultante de fatores internos e externos, que acabou levando à
desagregação do Império.
A
crise no Império de Roma
Internamente, o problema eram
os crescentes gastos com a administração do gigantesco Império.
Para diminuir esses gastos, os imperadores aumentavam os impostos e
desvalorizavam a moeda. Para a população significava uma grande
inflação, o que acabou provocando várias revoltas populares.
A
partir do século III, a crise agravou-se em virtude de um fator
externo: a intensificação da pressão sobre o Império Romano. No
Oriente, os adversários eram os persas e no Ocidente eram os
germanos. Esses povos não falavam a língua nem adotavam os costumes
dos romanos, por isso eram chamados de bárbaros.
A
situação agravou-se quando os romanos não conseguiam mais
encontrar trabalho, nem pagar aluguel e nem comprar comida. Além
disso, tornaram-se alvo de ataques dos germanos, que há tempos
vinham penetrando no império de várias formas. Muitos então
deixaram as cidades e foram para o campo em busca de segurança e
trabalho. Assim, o artesanato e o comércio declinaram, as cidades se
esvaziaram e o Ocidente europeu viveu um processo
de ruralização;
mas a vida urbana reduziu-se, não só pelo esvaziamento das cidades,
mas também pela destruição de muitas delas, por ataques e pilhagem
e pelo acentuado declínio demográfico causado pela morte em razão
da fome, das doenças e da guerra. Roma, que no século I tinha cerca
de 1 milhão de habitantes, chegou ao século V com menos de 300 mil.
No campo, as terras
cultiváveis estavam nas mãos de grandes proprietários; então os
pobres que para lá foram tiveram de trabalhar para esses
proprietários no sistema
de colonato. O
colono cultivava uma pequena parcela das terras do proprietário e,
como pagamento pelo uso dessa terra, entregava a ela parte da sua
colheita.
Soluções
para a crise
Valendo-se
da instabilidade do governo imperial, sediado em Roma, os generais do
Exército, apoiados por seus soldados, passaram a disputar o cargo de
imperador pelas armas. Muitos imperadores dos séculos IV e V eram
generais nascidos nas províncias que tomaram o poder à força,
fenômeno conhecido como anarquia militar.
Alguns
imperadores buscaram soluções para enfrentar essa crise econômica,
política e militar. A fim de conter a crise e melhorar a defesa do
Império, o imperador Diocleciano criou, em 285, a tetrarquia,
governo de quatro imperadores, cada um responsável por uma grande
região. Com essa repartição, o Império passou a ter quatro
capitais enquanto Roma ( que deixara de ser sede do Império).
Com
essa reforma, Diocleciano conseguiu tornar o Império mais governável
e reunir forças para repelir invasões, mas, ao abdicar por motivo
de doença, em 305, reinstalou-se a anarquia militar.
Em
324, depois de uma violenta disputa entre generais do Exército, o
Império voltou a ter um único imperador: Constantino, que combateu
os invasores e, ao mesmo tempo, por medida de segurança, mudou a
capital do império (de Roma) para Bizâncio; aquela cidade foi
reconstruída e, em homenagem a Constantino, chamada de
Constantinopla.
Outra
tentativa de defender o Império e melhorar sua administração foi
posta em prática pelo imperador Teodósio: em 395 ele dividiu o
território romano em duas partes:
Império
Romano do Oriente (com capital em Constantinopla);
Império
Romano do Ocidente (com capital em Ravena, depois transferida para
Milão).
No entanto, a penetração dos
germanos se intensificava cada vez mais.
Os
Germanos
Os povos germanos habitavam a
Germânia, região da Europa situada ao norte dos rios Reno e
Danúbio.
Culturalmente, os germanos
eram diferentes entre si, mas em comum tinham uma dedicação quase
integral à guerra e à agricultura. A
frâncica,
instrumento típico dos germanos, servia ao mesmo tempo como uma arma
e como uma ferramenta de trabalho; na guerra, servia como lança e,
na agricultura, era usada para resolver e preparar a terra para o
plantio.
Migrações
e invasões germânicas
Na segunda metade do século
IV, os hunos, um povo de cavaleiros nômades vindo da Ásia e
dedicando à caça e à rapinagem (roubo), se lançaram sobre os
germanos; estes, por sua vez, multiplicaram seus ataques ao Império.
Durante um desses ataques, Alarico, chefe dos visigodos, sitiou Roma
exigindo 4 mil libras de ouro, armas para seu exército e sua
nomeação como cônsul; diante da recusa, ele saqueou a cidade
durante 3 dias (em agosto de 410) e depois partiu.
Aos poucos, os germanos
começaram a vencer os romanos em várias frentes.
Em 476, finalmente, a capital
do maior Império da Antiguidade caiu nas mãos dos hérulos,
“bárbaros” chefiados por Odoacro. Com isso, chegava ao fim o
Império Romano do Ocidente. Já o Império Romano do Oriente ainda
por cerca de mil anos, com o nome de e sobreviveu ainda cerca de mil
anos, com o nome de Império Bizantino.
O
Império Bizantino
Era um império muito extenso;
abrangia a Grécia, o Egito e as províncias da Síria-Palestina, da
Mesopotâmia e da Ásia Menor. Além disso, abrigava um mosaico de
povos e culturas e, embora em Constantinopla as pessoas falassem
várias línguas, a língua oficial do Império Bizantino era o
grego. O nome “bizantino” deriva de Bizâncio, antiga colônia
grega que, por sua excelente localização, foi elevada a capital
pelo imperador Constantino em 330 e rebatizada de Constantinopla.
Conhecida como Porta do
Oriente, a cidade de Constantinopla estava entre a Europa e a Ásia,
e todo trânsito de mercadorias entre o mar Negro e o mar
Mediterrâneo passava obrigatoriamente por ali. A cidade era, por
isso, um dos maiores centros comerciais e urbanos do mundo, recebendo
pessoas e mercadorias de diversas partes do Oriente e do Ocidente.
Além disso, tinha a protegê-la o fato de ser cercada de água por
três de seus lados.
A
religião do Império Bizantino
Era a religião cristã que
fundamentava o poder do imperador, direcionava o dia a dia das
pessoas, fornecia os temas das obras de arte e legitimava a política
externas.
A
política do Império Bizantino
O Estado bizantino era tido
como uma organização celeste na Terra. O imperador considerava-se
representante de Deus, intérprete das coisas divinas e humanas e,
portanto autoridade maior em assuntos terrenos e espirituais. Era ele
também que escolhia o patriarca,
homem de confiança do imperador, legislava em matéria eclesiástica
e o assessorava na política. Com o título de basileus (aquele que
possui autoridade suprema), o imperador era visto por seu povo como
uma divindade, uma figura sagrada, separada dos demais homens. Seu
poder absoluto e ilimitado fazia dele um autocrata (soberano
absoluto).
Os Francos
Reinos Germânicos
Os
germanos eram povos guerreiros. Valorizavam a disposição para a
luta, a fidelidade e a coragem nos campos de batalha.
Os jovens guerreiros formavam
um bando comandado por um chefe ao qual prestavam juramento de
fidelidade; esse bando recebia o nome de comitatus.
Ao se envolverem em constantes guerras, os chefes desses bandos foram
ganhando riqueza e poder, e alguns deles se tornaram reis.
Entre os germanos não havia
leis escritas; as leis e tradições de cada grupo eram transmitidas
oralmente, ao longo do tempo, dos mais velhos para os mais novos; por
isso, o direito germano é chamado de direito
consuetudinário,
ou seja, baseado nos costumes.
Depois de um longo processo,
em que se alternaram migrações e invasões, os povos germanos se
instalaram nas terras antes pertencentes aos romanos e lá fundaram
vários reinos independentes, no entanto apenas um prosperou e
destacou-se dos demais por sua longevidade e poder: o Reino Franco.
O
Reino Franco
Depois de atravessar o rio
Reno, os francos se estabeleceram na Gália trazendo com eles suas
crenças e seus hábitos guerreiros, enfim, sua cultura.
E, nos primeiros anos do
século V, uma disputa armada entre os próprios francos levou ao
poder um chefe militar de nome Clóvis, o primeiro da dinastia
merovíngia, nome esse em homenagem a um ancestral de Clóvis,
chamado Meroveu.
No poder, o rei Clóvis
estabeleceu a capital do seu reino onde hoje fica Paris e, à frente
de seus guerreiros, conquistou o Reino da Borgúndia e tomou terras
dos visigodos e dos ostrogodos (dois reinos distintos).
Mas a violência não foi a
única estratégia usada pelo rei Clóvis.
Para contar com a força dos
borgúndios, o rei franco casou-se com a princesa do Reino da
Borgúndia, a cristã Clotilde, e, com isso, diminuiu a resistência
ao domínio franco.
O sucesso do expansionismo se
deveu principalmente à aliança do rei Clóvis com a Igreja cristã,
solidificada em 496, quando ele se converteu ao cristianismo.
Os
reis indolentes
O Estado, como entidade
política, tal como o conhecemos hoje, era desconhecido pelos
francos; na visão dele, o reino era propriedade particular do rei.
Esse modo de ver acabou tumultuando a administração do reino e
facilitando a ocorrência de uma série de traições, seguidas de
assassinatos de membros da realeza. Além disso, os sucessores de
Clóvis dedicavam boa parte do seu tempo a festas, passeios, torneios
de esgrimas e caçadas, tornando-se conhecidos, por isso, como reis
indolentes. Esses
dois fatores colaboraram para o enfraquecimento do poder real e para
a passagem da administração do reino às mãos do prefeito do
palácio (ou mordomo do paço), um alto funcionário da monarquia com
poderes de chefe de governo.
Um desses prefeitos do
palácio, Carlos Martel, e seus guerreiros conseguiram barrar o
avanço dos árabes muçulmanos na Europa ocidental, vencendo-os na
batalha de Poitiers, em 732. Com a morte de Carlos Martel, seu filho
Pepino, o Breve (assim chamado devido à sua baixa estatura), deu um
golpe político: aprisionou o legítimo herdeiro do trono e
proclamou-se rei dos francos. Com isso, iniciou uma nova dinastia,
chamada mais tarde de dinastia carolíngia devido ao seu principal
representante, o rei Carlos Magno.
Interessado no poderio militar
dos franco, o papa Zacharias reconheceu Pepino, o Breve, como rei e,
em troca, pediu a ele ajuda militar contra os bizantinos e os
lombardos que, na época, atacaram a Península Itálica e ameaçavam
tomar a sede do papado, em Roma.
Pepino, o Breve, e seus
guerreiros invadiram, então, a Itália, venceram os lombardos e os
bizantinos ali instalados e doaram à Igreja parte das terras
conquistadas. Dessa doação originou-se o Patrimônio de São Pedro,
também chamado de Estados da Igreja, que se mantiveram incorporados
aos domínios do papado por mais de mil anos.
O Império Carolíngio
Sucedendo seu pai Pepino, o
Breve, o rei Carlos Magno ampliou e consolidou a aliança com a
Igreja.
Ao mesmo tempo em que
solidificava seus laços com a Igreja, Carlos Magno dirigia
expedições guerreiras contra outros povos, o que lhe possibilitou
conseguir riquezas fabulosas e grandes porções de terra, formando
assim, um enorme império.
Estreitando ainda mais sua
aliança com a Igreja, Carlos Magno se fez coroar imperador pelo
papa, na noite de Natal do ano 800. Com isso, o chefe da Igreja e o
imperador tentavam restabelecer o Império Romano do Ocidente. O
Império Carolíngio recebia o apoio da Igreja; ela por sua vez,
aumentava seu poder e sua influência.
Durante o reinado de Carlos
Magno, o Império conheceu certa estabilidade, e isso se deveu, em
boa parte, à sua administração. Para melhor controlar o reino,
Carlos Magno dividiu-o em províncias e entregou sua administração
a funcionários de sua confiança.
A administração carolíngia
valia-se também de capitulares: documentos escritos contendo ordens
e comunicados do rei sobre os mais diversos assuntos.
Renascimento Carolíngio
Com o objetivo de preparar
funcionários capazes de administrar o seu reino, Carlos Magno criou
várias escolas nos mosteiros, nos bispados e uma delas no seu
próprio palácio.
A escola do palácio, chamada,
por isso, de Escola Palatina, era frequentada apenas pelos filhos dos
altos funcionários. Lá, eles aprendiam latim (língua usada nos
documentos oficiais), religião, gramática, aritmética, música e
geometria. Nessa escola, Carlos Magno reuniu estudiosos de diferentes
partes da Europa.
Nas escolas dos bispados e dos
mosteiros, desenvolveram-se o estudo e a cópia de antigos
manuscritos da Antiguidade.
Essas iniciativas dos reis
carolíngios, ligadas à educação e ao conhecimento, são chamadas
de Renascimento
Carolíngio.
Os monges copistas passaram
muitas horas nas bibliotecas dos mosteiros copiando textos que os
colegas lhe ditavam em voz alta. Foi graças ao trabalho paciente
desses monges que a obra de importantes autores gregos e romanos
chegaram até nós.
O enfraquecimento do poder
central
Carlos Magno foi sucedido por
seu filho Luís, o Piedoso, que se dedicou mais a religião do que à
política e teve dificuldades em manter a unidade do Império. Após
a morte de Luís, o Piedoso, seus três filhos passaram a disputar o
trono pelas armas. Depois de alguns anos de luta, eles assinaram o
Tratado de Verdun.
Por esse acordo de paz, o Império Carolíngio ficava dividido em
três partes, uma para cada irmão.
A
Europa invadida: Sarracenos e Vikings
No decorrer dos séculos IX e
X, a Europa foi alvo de violentas invasões, algumas delas ocorridas
ainda no reinado de Carlos Magno.
Detidos por terra, os árabes
muçulmanos continuaram atacando por mar. Partindo da Espanha e do
norte da África, piratas muçulmanos, conhecidos como sarracenos,
atacavam e pilhavam as coisas da atual região da França e da
Itália.
Outro povo que também chegou
pelo mar foram os normandos, mais conhecidos como vikings.
Eles eram de origem germânica e viviam na Escandinávia (Dinamarca,
Suécia e Noruega). Esses mestres em navegação, com suas velozes
embarcações, assaltavam e pilhavam as cidades e os mosteiros,
levando pânico por onde aportavam. Às vezes, seguiam também pelos
rios e atacavam o interior. Londres e Paris foram saqueadas várias
vezes. Com o tempo, os vikings deixaram de lado a pirataria e os
saques e começaram a se estabelecer. No final do século IX, por
exemplo, fixaram-se no norte da atual França, numa região que, por
causa deles, ficou conhecida como Normandia.